O mingau de milho com frango caipira da família Ferreira
- Especiarias Revista
- 13 de nov. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 16 de nov. de 2021
Se não fosse a briga pela quantidade de alho no mingau, nem os buchichos e as caras fechadas na cozinha, não teria sido mais uma ocasião em que a família reúne-se para comer. São as pessoas que fazem as ocasiões especiais e com isto, a quantidade de tempero torna-se apenas um detalhe. Com alho ou sem, a minha marmita esteve garantida.

Por vários anos o mingau de milho e o frango caipira têm estado na mesa da família
Foto: arquivo pessoal
A família do vovô Bem, como eu o chamo, é grande. Doze irmãos mais os filhos e os filhos deles. Em 1974, os doze e seus pais vieram de Taquarituba, do interior do estado de São Paulo, a Sorocaba na esperança de viver algo melhor. Depois de muitos anos eu nasci e desde então, o mingau de milho com frango caipira é um clássico da família Ferreira para mim.
Embora a maioria dos irmãos se coloque à disposição caso o outro precise, reuni-los nem sempre é uma tarefa fácil. Quando algo é marcado, muitos ficam de fora. Mas lá em Coronel Macedo, pertinho de Taquarituba, onde o meu avô nasceu, já compartilhamos muitos momentos que as papilas gustativas não ousaram esquecer.
As mulheres juntas: pegam o milho. Tiram a palha, a cabeleira e os bichinhos. Ralam o milho. No meio do percurso, algumas ralam o dedo e são remanejadas para outras tarefas. O tempero fica por conta da prima Chiquinha, como carinhosamente a chamamos, bem como o preparo do frango caipira. Muitas vezes, ainda, nós aproveitamos os ingredientes para fazer bolo e pamonha.
Quando criança, eu ficava com a melhor parte: sentar e comer. Acompanhada de um copo de guaraná de garrafa de vidro, eu ouvia as histórias repetidas sobre as lembranças da família e lendas do Saci Pererê. A criançada comia logo para poder brincar. Nós nos encontrávamos para rolar o gramado, bater papo em cima da cerca e jogar taco.
Foto 1: Gostávamos de andar a cavalo. Vovô Bem me acompanhando;
Foto 2: Debaixo da sombra ou em cima da cerca. O passatempo preferido era brincar e conversar
Fotos: arquivo pessoal
Neste ano atípico nós não fomos ao sítio. Meu pai sentiu vontade de comer o mingau, comprou um saco de milho e fomos até a casa da minha tia, um dia depois do Palmeiras ter sido campeão da Libertadores.
A família palmeirense seguiu o mesmo processo: as mulheres juntas tiraram a palha, ralaram, deixando apenas uma mulher com os dedos machucados, e prepararam o milho. No entanto, o tempero, que no sítio fica por conta da prima Chiquinha, ficou sob a responsabilidade da irmã mais velha do meu avô, que por sinal cozinha muito bem.

A família usa um ralador grande para otimizar o tempo
Foto: arquivo pessoal
Não coloque as mãos na minha panela!
Você já esteve cozinhando e alguém colocou as mãos nas suas panelas, acrescentou ou tirou algo, que fez com que o preparo não saísse da maneira esperada? Pois bem, alguém colocou mais alho no mingau.
A minha tia tempera a comida com pouco alho. Os pratos feitos por ela dispensam qualquer crítica, todavia alguns familiares preferem um tempero mais forte e este foi o motivo da discussão.
Com uma colher de pau, depois de ter colocado alho e sal, minha tia mexia o mingau dentro da panela, em cima do fogão à lenha de sua irmã. “Eu faço como a mamãe fazia”, frisou minha tia mais velha. Então alguns comentários surgiram: “tem alho o suficiente?” ou “não ficaria melhor se colocasse mais alho?”.
Como a cozinheira já havia acertado o tempero, ela continuou da maneira que considerou melhor. Até mesmo eu mexi a panela, mas não ousei acrescentar nada, afinal, eu só estava auxiliando. Os buchinhos, porém, ainda rolavam pela cozinha externa, e por conta do alho, depois de se chatear, minha tia deixou o mingau.
No fim das contas tudo ficou bem, já que o sabor da comida uniu a todos. O frango dourado, com salsinha e cebolinha, e o mingau, espesso e amarelinho, perfumaram a nossa mesa. O único som que se ouvia era de alguns talheres esbarrando no prato e os suspiros de satisfação. Estava muito bom!
Até agora, eu não sei se o tal alho foi mesmo acrescentado. O que sei é que eu comi. Por quantas vezes já nem me lembro. Mas a minha marmita caprichada para o dia seguinte estava pronta no final.
Encontro em família em 2021 com direito a frango e bolo de milho
Fotos: arquivo pessoal

Receita do mingau de milho
Ilustração: Ana Laura Ferreira

Escrito por Ana Laura Ferreira
Louca por Jesus Cristo e apaixonada pela vida que ele me deu! Sou jornalista em formação, estagiária de redação e contadora de histórias. Estou aprendendo a amar e cuidar de pessoas todos os dias.











Comentários