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Ingerir alimentos com agrotóxicos faz mal?

  • Foto do escritor: Especiarias Revista
    Especiarias Revista
  • 18 de nov. de 2021
  • 6 min de leitura
Entenda a diferença entre produtos orgânicos e convencionais e como os pesticidas podem afetar nosso organismo

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Qual será o impacto de pesticidas no nosso organismo?

Ilustração: Freepik


Há mais de quarenta anos presente na família Boyriven, a fazenda Nossa Senhora da Conceição além de ser um espaço de agricultura, também já foi casa de vó. Trinta e sete anos atrás, quando Sophie Boyriven ainda era pequena, seus avôs mantinham uma fazenda, que além de ser uma casa divertida para os netos, também tinha uma produção de laranjas convencionais em larga escala, isso significa que eram utilizados agrotóxicos para manter a plantação livre de pragas. Entretanto, apesar de produzirem alimentos com resíduos de pesticidas, a família se alimentava apenas de produtos orgânicos, produzidos na horta da avó de Sophie. “O interessante é que até a laranja que a gente chupava era da horta orgânica e não da plantação do meu avô”, diz Sophie.


Sophie Boyriven Moreira de Souza, é uma produtora rural e proprietária de uma fazenda de orgânicos em Itapetininga, a Terra Biodinâmica, antiga fazenda de seus avós, porém com nome e modelos de agricultura diferentes. Em 2008, após o falecimento de seu avô, a produtora rural teve oportunidade de assumir a fazenda e por questões de princípios decidiu abandonar o uso de pesticidas e adotar a agricultura orgânica através das técnicas de biodinâmica e agrofloresta, pois desde criança sempre se alimentou de orgânicos.


Foto 1: Sophie Boyren trabalhando em sua produção orgânica

Foto 2: Vista panorâmica da fazenda Terra Biodinâmica

Foto 3: Cestas de alimentos orgânicos comercializados na fazenda da família Boyriven

Foto 4: Colheita das laranjas orgânicas

Fotos: arquivo pessoal


“Minha mãe sempre comprou alimentos orgânicos para gente, até mesmo na casa dos meus avôs, apesar deles usarem agrotóxicos, sempre se alimentaram dos frutos do pomar da minha avó, eles tinham essa consciência do benefício do orgânico para nossa saúde”, relembra Sophie. Mas, será mesmo, que alimentos orgânicos são melhores que os convencionais? Qual a diferença entre eles? Há riscos em consumir produtos com resíduos de agrotóxicos?


Para entender melhor sobre o assunto, primeiro é necessário saber a diferença entre alimentos orgânicos e convencionais. Conforme a nutricionista Sara Spim, alimentos orgânicos são produtos in natura, que não possuem aditivos na sua produção, embalagem, transporte e manuseio. Ele é cultivado só com adubos naturais sem produtos químicos acrescentados neles para combater pesticidas da produção.


“Já os alimentos convencionais são aqueles que usam aditivos, pois como são produzidos em grande escala, para o produtor ter rendimento e retorno do capital investido, ele acaba usando aditivos. Na questão nutricional, podemos considerar que alimentos convencionais e orgânicos são iguais, pois não tem um estudo que mostra que orgânico é mais nutritivo que o convencional”, complementa a nutricionista.


Apesar de terem a mesma capacidade nutritiva, alimentos com agrotóxicos podem causar algumas alterações na saúde humana. “Alguns estudos em animais já mostram malefícios dos pesticidas na saúde. Entre as alterações que eles podem causar no nosso corpo estão: disfunções sexuais, puberdade adiantada, diabetes, infertilidade, malformações fetais, aborto, disfunções da tireoide, obesidade e outras”, diz Sara Spim


Devido aos riscos a saúde que a ingestão de pesticidas podem nos trazer, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), uma das responsáveis por aprovar o uso de diferentes agrotóxicos, realiza estudos para ter um parâmetro de segurança definido como a quantidade máxima de agrotóxicos que ingerimos por dia, durante a vida toda, sem causar danos à saúde.


Esse parâmetro é chamado Ingestão Diária Aceitável (IDA), e se for respeitado pelos agricultores, a quantidade de agrotóxicos que chega a nossa mesa é bem pequena, fica entre de 0,01 a 0,5 miligramas a cada quilo de alimento, dependendo do pesticida, porém, nem sempre a fiscalização de alimentos convencionais é feita de forma correta.


“O ideal seria ter um controle rígido disso, mas muitas vezes a quantidade de agrotóxico despejada no alimento é extrapolada. Na prática, nós não sabemos o que consumimos, por isso o ideal seria consumir de pequenos produtores orgânicos, pois é possível ter uma ideia de como é feita a plantação”, explica a nutricionista Sara Spim.


Comprar alimentos orgânicos de pequenos e médios produtores pode trazer benefícios à saúde e ajudar na economia de pequenos agricultores, como no caso da fazenda da família Boyriven.


Segundo Sophie, proprietária da fazenda, a grande diferença entre uma plantação convencional e orgânica é a força de mão de obra, “o trabalho se torna muito mais prazeroso, porque a gente precisa de mais trabalhadores, o que acaba gerando mais empregos. Além disso, trabalhando dessa maneira, a gente acaba entrando em uma sinergia com a natureza, nós cuidamos dela e ela devolve em dobro”, diz Boyriven.


Sobre os benefícios à saúde, a nutricionista Sara Spim, afirma que reduzir a ingestão de produtos com agrotóxicos contribui com a saúde em geral, a longo prazo.


“Quando você paga um pouquinho mais em alimentos orgânicos, você vai investir um pouquinho mais na saúde, na qualidade de vida e na prevenção de doenças. Se você tem predisposição a ter câncer e consome muito resíduo de agrotóxicos, isso pode acelerar um processo de câncer em você futuramente. Se você tem predisposição, mas investe em uma alimentação boa, uma alimentação orgânica, você pode ficar livre dessa predisposição e ter uma qualidade de vida muito maior”, diz Spim.


O mercado orgânico e o real sabor da comida

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Refeição orgânica,comercializada na 2 Marias Orgânicos Sorocaba, composta por kibe assado e abóbora

Foto: Brenda Ponciano



Já parou para pensar que a maioria da população só conhece o sabor de alimentos com aditivos, e nunca provou o sabor natural da comida?


“Aqui na empresa nós temos a lasanha de berinjela, e a berinjela orgânica costuma ter o sabor mais forte, já teve casos de clientes que reclamaram do nosso serviço por isso, mas não tem o que fazer esse é o real sabor do alimento”, essa fala é do Luís Henrique Mascarenhas, proprietário da 2 Marias Orgânicos Sorocaba, uma franquia especializada em refeições orgânicas congeladas e para viagem.


Luís conta que antes de adquirir a franquia não tinha muito conhecimento sobre o mercado de orgânicos, mas após entrar para o ramo, emagreceu 20 quilos consumindo as marmitas de sua empresa no almoço e no jantar. “Como os produtos orgânicos não contêm adição de conservantes e agrotóxicos, você desincha mais fácil”, diz Mascarenhas.


Antes de abrir sua franquia, Luís Henrique trabalhava em uma imobiliária como gerente comercial e durante a pandemia viu no mercado dos orgânicos uma oportunidade para empreender.


A recepção do público de Sorocaba ao modelo de refeições foi boa, de acordo com Luís. “O público nos recebeu bem, porém, geralmente quem se alimenta de orgânicos tem certa resistência a produtos congelados, mas isso não interfere nada na qualidade do alimento”, afirma Mascarenhas.



Foto 1: Refeição congelada de panqueca com recheio de frango

Foto 2: Armazenamento das marmitas

Foto 3: Espaço onde as refeições são aquecidas para ir para o delivery

Foto 4: Embalagem que vão alimentos como muffins e bolos

Fotos: Brenda Ponciano



Para Luís, o mercado de orgânicos é um nicho que apesar de restrito, tende a crescer muito nos próximos anos, e talvez por conta da pandemia a pessoas tenham adquirido mais consciência alimentar e se preocupado mais com o que comem.


Segundo levantamento feito pela Organis, Associação de Promoção dos Orgânicos, o setor de orgânicos no Brasil cresceu 30% em 2020. De acordo com Cobi Cruz, diretor da Organis, este foi um ano em que o mercado cresceu muito, e um pouco devido à pandemia. Para ele, “as pessoas já vinham se preocupando mais com a saúde, e a pandemia acentuou mais ainda essa curva.”, diz Cobi.


Um dos orgânicos mais vendidos durante o início e no meio da pandemia, segundo Cobi Cruz, foram os alimentos de fácil preparo, como os comercializados por Luís. O proprietário da 2 Marias Orgânicos Sorocaba, pode nos confirmar isso, pois atualmente seu negócio já vende entre 30 e 40 refeições por dia, e já entrou em conta equilíbrio (quando receitas e despesas totais se equivalem, não gerando lucro nem prejuízo para empresa).


“Os próximos passos da 2 Marias Orgânicos Sorocaba é trabalhar com embalagem sustentável e biodegradável, porque nosso público, além de se preocupar com a saúde também se importa muito com o meio ambiente”, conta Luis Mascarenhas.


*SAIBA MAIS:

Confira no vídeo acima alguns dados sobre o perfil de consumidores de orgânicos.


Por fim, para os próximos anos, de acordo com projeções da Organis, é esperado que o mercado de orgânicos continue crescendo, porém de forma mais lenta, se em 2020 houve um crescimento de 30%, a projeção de crescimento para 2021 é de 10%. Para quem pretende em empreender nessa área “ é necessário pensar que não este não é um nicho de lucro imediato, o dinheiro vem, mas em primeiro lugar deve-se colocar o seu propósito e trabalho”, afirma, Cobi Cruz, diretor da Organis.



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Escrito por Brenda Ponciano

Uma estudante de jornalismo que viu nessa profissão a possibilidade de desbravar sua curiosidade através de diferentes matérias, sempre com o comprometimento de trazer conteúdos saborosos.



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Projeto desenvolvido pelos alunos do 6° semestre de jornalismo, matriculados na disciplina de "Projeto Interdisciplinar: Revista Digital" da Universidade de Sorocaba. 

@Revistaespeciarias - 2021
Sorocaba/SP

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