Do quintal ao prato
- Especiarias Revista
- 11 de nov. de 2021
- 5 min de leitura
Atualizado: 19 de nov. de 2021
Você sabia que as flores do seu quintal podem ser comestíveis e até fazer parte de um prato sofisticado em um restaurante?

Linguini ao ‘nero di seppia’ com flores comestíveis. Prato típico da região da Sicília, na Itália
Foto: Daniel Ribeiro
As flores são usadas como itens de decoração, ingredientes de perfumaria e cosméticos, sem contar que têm várias simbologias, mas você sabia que podemos comê-las? Isso mesmo, essa plantinha que você tem na sua casa pode te servir como alimento.
O uso das flores na culinária começou na Idade Média. Há alguns registros de que romanos já cultivavam violetas e rosas para utilizar na cozinha. No Brasil, ainda é pouco conhecida esta prática, porém, alguns restaurantes já utilizam as flores em seus pratos, seja para simplesmente decorar ou no próprio preparo.
Na verdade, já consumimos flores, só não sabíamos ou chamávamos assim. O brócolis, por exemplo, é uma flor comestível que faz parte da rotina dos brasileiros, assim como diz o próprio nome, temos a couve-flor e também a alcachofra.
Não só em pratos, como também preparamos uma série de chás com flores comestíveis. Lembra o de camomila? O chá mais famoso para diminuir o estresse? Pois bem, essa e outras flores podem render vários tipos de bebidas e, além disso, possuir benefícios. Mas você deve se perguntar, por que não é comum consumir flores no Brasil? Uma das explicações pode ser porque durante muito tempo não existia estudos nesta área, então as pessoas tinham medo das flores serem tóxicas. Além de que, não era um costume no nosso país, portanto, não fazia parte da nossa cultura.
Em 2008, o biólogo e professor do IFAM - Instituto Federal do Amazonas, Valdely Ferreira Kinupp, propôs a denominação das PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais). Essa categoria engloba plantas e flores que não são conhecidas ou consumidas frequentemente. A partir disso, a ideia de consumir as flores foi crescendo e o mercado gastronômico no Brasil começou a investir nessa especiaria em seus restaurantes.

Mudas de diferentes flores se recuperando do inverno
Foto: Daniel Ribeiro
Na gastronomia
O chefe de cozinha e professor de gastronomia, Alessandro Lupini, é italiano e está no Brasil há aproximadamente dez anos. Ele conta que a utilização das flores comestíveis nessa área surgiu no início da gastronomia moderna como uma forma de decoração para deixar o prato mais bonito. Existem vários tipos de flores, assim como existem diferentes formas de utilização, Lupini explica que tudo depende da criatividade e do que pretendem despertar no consumidor, segundo ele, as pessoas comem primeiro pelos olhos.
O segredo está no equilíbrio em saber usar as flores como um ‘coringa de atração’.
Ele lembra que na gastronomia não existe regra, pode-se usar as flores no preparo de bebidas, sobremesas, sopas e caldos, entre outras infinidades, “Encontramos flores que são típicas de decoração, outras são melhores pelos seus aromas e temos as flores que são ótimas para cozimento, como a flor de abóbora.”, relata. O chef também revela que o segredo está no equilíbrio em saber usar as flores como um ‘coringa de atração’.
É gostoso Mesmo?
Assim como cada flor tem sua peculiaridade no mundo da beleza e dos cheiros, elas também possuem essa peculiaridade no seu sabor. O dente-de-leão, por exemplo, famoso pela diversão ao assoprar suas pétalas, é uma ótima opção para saladas, geleias e sobremesas, por ter um sabor adocicado que lembra o mel.
Já as tagetes são levemente amargas e o seu uso é indicado para sopas e molhos. Por ser de origem mexicana, já esperamos o gosto levemente apimentado e a coloração forte, podendo ser uma ótima substituta do açafrão. O chef Alessandro relata que a aceitação das pessoas mudou com o tempo. No início era uma surpresa para quem desconhece essa especiaria, mas depois da degustação as pessoas até elogiam o prato.
Curiosidades
O professor de gastronomia explica o porquê de as flores serem um “coringa de atração” e o que existe por trás de um prato preparado com elas.
Nós, seres humanos, somos movidos pelos cinco sentidos: olfato, paladar, visão, audição e tato. Então quando se prepara um prato na gastronomia deve-se pensar; o que você vai conseguir atrair quando olharem o seu prato? E nisso, as flores se encaixam muito bem.
Para a visão, você pode usar a lavanda no preparo de um sorvete, ele fica com uma cor e aroma que desperta a curiosidade para degustar. No despertar do olfato, uma excelente opção é usar o cheiro da flor de laranjeira no preparo de uma calda, dessa forma o cérebro é atraído e manda produzir salivação. Legal, não é? E aí, entra uma infinidade de truques disponíveis com as flores, podemos deixar essa parte com os mestres de cozinha.
Bonitas, comestíveis e nutritivas
Além de todas as funções na gastronomia, as flores também possuem valores nutritivos e podem ser uma ótima opção para o veganismo, alimentação ‘plant based’ e para o vegetarianismo. A nutricionista, Lorena Seidner, esclarece que as flores são divididas em três componentes principais: o pólen, as pétalas e o néctar.

Cultivo próprio de flores de um restaurante local em Sorocaba
Foto: Daniel Ribeiro
Embora seja uma quantidade pequena, o pólen é rico em proteínas, carboidratos e lipídeos. Já o néctar possui um líquido com uma quantidade equilibrada de açúcar, também podem ser encontrados aminoácidos livres e sais minerais.
Por último, ela explica que as pétalas são as mais consumidas e contêm os mesmos compostos do néctar e do pólen, porém com alguns benefícios a mais. “Além disso, nas pétalas é encontrado um percentual interessante de vitaminas, sais minerais e compostos antioxidantes.” finaliza.
CUIDADOS E RESTRIÇÕES
Por mais que o consumo das flores venha crescendo gradativamente, a nutricionista alerta para alguns cuidados antes de sair comendo qualquer flor por ai, “Como qualquer outro alimento, é importante seguir as regras de higiene e segurança alimentar, como a correta identificação das plantas, porque muitas delas ou parte de seus componentes podem ser tóxicos”, explica.
Ela ainda lembra sobre a importância de cultivar as flores em um local livre de poluentes ambientais e isentos de agrotóxicos que podem prejudicar a nossa saúde.
Até o momento, não existem no campo nutricional restrições alimentícias das flores, porém, a nutricionista orienta o cuidado no consumo exagerado e com o pólen, pois em alguns consumidores essa parte pode causar alergias.

Chef Alessando Lupini no preparo do prato de flores comestíveis
Foto: Daniel Ribeiro
SAIBA MAIS:
Flores comestíveis e suas curiosidades com a nutricionista Lorena Seidner:
Gostou? AINDA TEM MAIS: Confira o prato especial que o chef, Alessandro Lupini, preparou para os leitores da revista Especiarias e se encante com o mundo das flores comestíveis.

Escrito por Fernanda Sena
Uma jornalista em formação apaixonada pelo mundo investigativo, assessoria e amante de TV. “Deixe que as palavras saiam do cérebro e as atitudes do coração!”

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