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BAKE OFF BRASIL: A doce disputa por um sonho

  • Foto do escritor: Especiarias Revista
    Especiarias Revista
  • 12 de nov. de 2021
  • 6 min de leitura

Atualizado: 19 de nov. de 2021

A disputa de bolos mais doce e conhecida do Brasil, o Bake Off Brasil, tem um único objetivo: colocar as mãos na massa. E para o Gileade, morador da vila Haro, em Sorocaba, e participante da 7ª temporada da edição, colocar as mãos na massa é uma prática um tanto quanto familiar. Ele atuou por quase dez anos como mestre em obras, e agora, está substituindo a enxada e o cimento, pela confeitaria e utensílios de cozinha.

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Aqui, o sonho começava a se tornar realidade. A foto representa o início do Reality.

Foto: arquivo pessoal


Mãos na massa Há dez anos, se dissessem para Gileade Freitas de 36 anos, que ele deixaria de ser mestre de obras para viver da confeitaria, talvez ele não acreditasse. Mas o destino se encarregou de fazer as linhas do seu trajeto se unirem, como se fosse tudo milimétricamente planejado. Ainda nas gravações da 7ª temporada da edição e diretamente do hotel em que está hospedado, ele carinhosamente tirou um tempinho de sua rotina e conversou com exclusividade com a Revista Especiarias e nos contou um pouco de como tudo começou. Sua trajetória no programa começou no início deste ano, em janeiro, quando sua esposa, Bruna Guerra, decidiu inscreve-lo no reality. Mas antes de chegar em uma das emissoras mais assistidas no país, ele passou por vários altos e baixos.


Gileade dedicou oito anos de sua vida para a construção da Santa Casa de Sorocaba, um dos hospitais mais importantes da cidade. Anos depois, ele pediu a demissão para trabalhar como autônomo. Mas com a crise no país, conseguir dinheiro ficou cada vez mais difícil, e com a situação ficou apertada, Bruna, sua esposa, deu a ideia de produzir e vender bolos de pote pela cidade. “Foi uma época muito difícil, eu não tinha dinheiro para nada, mas mesmo assim decidimos tentar a sorte.” Relembra Gileade.

“Mãos na massa”, mas em 2014, a massa era o ciumento e a batedeira a furadeira. Fotos: arquivo pessoal


Sem dinheiro nem para as matérias primas, o casal vendeu um ferro de passar roupas antigo para conseguir comprar os ingredientes para os bolos de pote. Com a venda, conseguiram 60 reais, e com esse dinheiro, foi possível comprar tudo o que precisava para sair e vender os bolos pelas ruas da cidade. “No primeiro dia eu vendi 20 bolos e em pouco tempo nós já estávamos vendendo uns 80 bolos de pote por dia.


Mas nem sempre foi fácil, às vezes as pessoas queriam nos dar apenas moedas, como se fossem esmolas.

Porém eu não desisti, e logo, começaram as encomendas de bolos para festas, mas eu não tinha muita prática.”


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“Sr Doce” era o antigo nome da “marca”.

Os bolos eram vendidos de porta em porta por vários bairros da cidade de Sorocaba


(Fotos: arquivo pessoal)




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Com os inúmeros pedidos de bolos com pasta americana, uma cobertura pastosa de açúcar, geralmente usada para decorar os bolos, Gileade precisou se especializar. Sua escola foi a plataforma Youtube e por lá, assistiu inúmeros tutoriais que o ensinaram grande parte do que ele sabe hoje. Mesmo tudo sendo feito de maneira totalmente artesanal, desenhar sempre foi um hobbie, e em pouco tempo, e com muita coragem, esculpir bolos para festas, foi se tornando algo de sua rotina. “Quando eu era criança eu gostava de brincar de esculpir bonecos com barro, e na cozinha, eu vi que eu tinha facilidade para fazer esse tipo de decoração”.


“Eu gosto muito de fazer isso, e tudo o que eu aprendi foi literalmente, colocando a mão e fazendo”

O "sim" para o reality

As encomendas estavam indo bem, mas a situação poderia melhorar ainda mais. Bruna, a maior incentivadora e braço direito de Gileade, decidiu fazer a inscrição para o Bake Off Brasil, e durante o preenchimento dos dados, era necessário mandar um texto contando sobre a história e relação com os bolos “Eu sabia que seriam várias etapas para conseguir entrar no programa, mas dois meses depois do envio das informações, em março, nós recebemos um retorno dizendo que o meu perfil fazia o tipo do reality.”


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“Eu amo a vida marinha, e esse polvo está marcado na minha pele. Ele foi o passaporte para tudo que eu estou vivendo agora.” Conta Gileade. Foto: arquivo pessoal


Nas etapas seguintes, os possíveis participantes precisavam fazer um bolo que mais representasse sua trajetória e levar ao estúdio de gravações para uma avaliação presencial. “Eu levei um bolo em formato de polvo, que demorei mais de 10 horas para fazer. Eles experimentaram e deu tudo certo”. Depois de alguns dias, como de costume, a produção fez uma chamada de vídeo com Gileade, mas dessa vez, com uma surpresa que encheu o coração do casal de esperança. “Quando me ligaram eu achei que seria para falar sobre uma nova etapa. Aí, a Nadja, apresentadora do programa, apareceu com um avental me parabenizando e dizendo que eu tinha sido escolhido.” “Foi muito emocionante, eu chorei muito.”

Isolamento e saudade Gileade, que ajudou na construção de um dos hospitais que atendeu inúmeros pacientes com covid-19, jamais imaginaria que participaria de um programa durante a pandemia, totalmente isolado do convívio familiar, vivendo a pressão de participar de um dos maiores reality do Brasil. “Entre junho, julho e agosto, ficamos totalmente isolados, foram exatos três meses vivendo um ciclo do quarto, para o estúdio do SBT, para o hotel.” Pai de pet e casado há 17 anos, a saudade se tornou uma das etapas mais difíceis da participação no reality.

“Foi horrível! nesses anos de casado eu nunca tinha ficado um dia longe da minha esposa, e durante o isolamento no hotel eu fiquei três meses.”

“Depois, com a vacinação acontecendo de forma mais acelerada, fomos liberados para sair e visitar os familiares aos finais de semana, mas sempre respeitando todos os protocolos de saúde.”


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Bruna Guerra, esposa e maior incentivadora de Gileade. Foto: arquivo pessoal


A disputa com o relógio

A responsabilidade de carregar um sonho deixava a pressão de participar do reality ainda maior. O que em casa poderiam ser feitas em 24 horas durante as encomendas diárias, no programa, precisavam ser feitas em apenas três. “Imagina só ter que fazer a massa, o recheio, a decoração e ainda esculpir o bolo em apenas três horas. Em casa eu começava um dia antes, para gelar tudo certinho e conseguir fazer tudo com calma e perfeitamente.”


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Produção durante uma prova criativa. Foto: reprodução SBT


E além da pressão de cozinhar, o desempenho negativo em algumas provas acabava desestabilizando ainda mais o participante. “Às vezes eu pensava “O que eu estou fazendo aqui?” e o pensamento de desistir acabava vindo na cabeça.”


O que o mantem forte e resiliente são dois pensamentos: lembrar-se de suas raízes e lembrar-se que milhares de brasileiros e confeitos gostariam de ter essa mesma oportunidade. “Eu respiro fundo e parece que passa um filme pela minha cabeça. É uma oportunidade única e seria injusto eu desistir por todos que queriam estar aqui.” “A pressão é grande, mas eu vou batalhar e ir até o final.”

Aliados ou amigos?

O confinamento fez que a competição ficasse um pouco de lado, e durante as gravações do programa, laços de amizades foram se formando, algo que o Gileade nem esperava que pudesse acontecer. “Eu não imaginava que seria possível fazer amizades verdadeiras. É claro que todos querem ganhar, mas a amizade falou mais alto.”

E a convivência é tanta com os outros participantes, que os sentimentos acabaram se transformando em apenas um “A gente chora quando o amigo vai bem, a gente chora quando vai mal. Eu encontrei irmãos aqui, é misto de conquistas coletivas.”


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Participantes “irmãos” da 7 ª temporada do Bake Off Brasil.

Foto: reprodução SBT


A final

O prêmio é apenas um: Uma viagem para Bélgica, R$ 25 mil reais em equipamentos para cozinha e o mais almejado troféu do Bake Off Brasil. Mas para Gileade, as conquistas já começaram aparecer. Ele entrou no reality com pouco mais de 1.700 seguidores, e agora, já está com mais de dez mil. Bruna, que além de esposa é braço direito, agora também precisa conciliar o tempo sendo assessora das redes sociais do Gileade. “A Bruna ajuda em tudo! São muitos pedidos de orçamento. Nós estamos pedindo para o pessoal ter um pouco de paciência, já que eu ainda estou nas gravações do programa.”


O sonho do casal de ter uma confeitaria com uma vitrine, para atender presencialmente os clientes, fica cada dia mais próximo. A final da competição está chegando e Gileade já se se vê segurando o troféu, carregando com ele toda sua história e dedicação. “Eu ter sido escolhido e chegar até aqui já é uma grande vitória. Eu sou bom e vejo na final, levando o prêmio pra casa, junto com minha esposa.”


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Bolo “Nostalgia” em uma das provas criativas. Agora, ele aguarda a prova mais esperada do programa, a que define quem será o ganhador.

Foto: reprodução SBT


Receita

Ficou com vontade? Aprenda a fazer um dos bolos que o Gileade preparou durante a prova criativa:


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Ilustração: Daniele Gonzales


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Escrito por Daniele Gonzales

Uma quase jornalista apaixonada pela comunicação. Adora viajar e registrar em fotos momentos especiais. Sua motivação como repórter é contar histórias e vivenciar transformações sociais


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Projeto desenvolvido pelos alunos do 6° semestre de jornalismo, matriculados na disciplina de "Projeto Interdisciplinar: Revista Digital" da Universidade de Sorocaba. 

@Revistaespeciarias - 2021
Sorocaba/SP

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